segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A cidade dos sonhos: dos sonhos do capital imobiliário.

Recebi de um amigo um email com a seguinte notícia:

“Criado pela siderúrgica sul-coreana Posco e pela imobiliária nova-iorquina Gale International, o município de Songdo deverá ter um custo de US$ 40 bilhões. A meta é criar um lugar que reúna “tudo que alguém possa querer, precisar ou sonhar numa única cidade”. Essa definição aparentemente inclui “táxis aquáticos elétricos”, as torres gêmeas mais altas do planeta, um campo de golfe projetado por Jack Nicklaus, e um parque de 40 hectares no centro da cidade.”

“Qualquer um que possa gastar US$ 26 mil na educação de cada um de seus filhos certamente ficará encantado com aquela que promete ser a escola mais bem equipada do mundo, com auditório com capacidade para 650 pessoas, e seu próprio estúdio de TV. Como Songdo pretende se tornar um centro do comércio internacional, sua escola também deverá ser internacional, para abrigar os filhos dos executivos que, de acordo com a expectativa dos criadores, chegarão aos montes a partir do lançamento da cidade, em 2015.”


Trata-se então do que em sido chamado no âmbito dos debates acadêmicos sobre planejamento urbano de “grande projeto urbano”: uma operação do grande capital imobiliário que tem como meta obter lucro a partir de uma grande reestruturação do uso do solo, com geração de economias de aglomeração, pela coordenação das ações dos agentes econômicos, com forte presença de mecanismos de propaganda e marketing. Algo que já existia embrionariamente na produção dos shopping-centers, mas que, na forma como apresenta na email, aqui aparece elevado a escala da cidade, com a transformação do não urbano em urbano de uma só vez.

A propaganda promete tudo que alguém possa querer, precisar ou sonhar numa única cidade. Bem considero que duas coisas são fundamentais numa cidade. A primeira é cidadania.

A existência da cidadania, entendida como “direito à direitos”, remete a sensação de liberdade e segurança ampliada, iniciada na idade média, quando a cidade se afirmou autônoma frente a dominação feudal. A dinâmica do capital nas cidades torna posteriormente a luta pela cidadania uma luta permanente nas cidades, onde os trabalhadores precisam reconquistar sua cidadania para garantir as condições de sua integridade física e moral.

A cultura das cidades, produto de um longo processo histórico, que impregnou paisagens urbanas e práticas culturais, é que faz de uma cidade um lugar especial. Mais: é que constrói a identidade entre cada individuo e sua cidade. É o que cria e sensação de pertencimento, que faz com que cada um se sinta em casa na sua cidade.

Esses processos estão evidentemente fora das possibilidades do capital imobiliário criar.