terça-feira, 31 de agosto de 2010

Comentando comentários

Raama,
Muito obrigado pelo comentário. Espero que sua leitura do blog seja proveitosa.

Alexsandro,
Valeu a pergunta.

Visitei os blog que você recomendou o http://tarifazero.org/. Achei os debates sobre a tarifa zero muito interessante. De lá fui levado ao sitte http://www.apocalipsemotorizado.net/ e encontrei vídeos divertidos e também interessantes.

Bem, você pergunta sobre a adoção da tarifa zero nos transportes coletivos. Em primeiro lugar, para que isso aconteça é preciso que seja de propriedade Estatal todo o sistema de transporte com tarifa zero. Caso contrário, o Estado estaria financiando o lucro de um grupo privado específico, os donos de empresa de ônibus, porque o lucro é proporcional a demanda e como se pode ver no site que você indicou ( Ver: http://tarifazero.org/2009/08/13/transporte-publico-gratuito-em-hasselt-belgica/ ), a demanda por transporte público aumenta significativamente, quando ele é gratuito.

Por hora é isso que eu tenho a dizer, mas espero no futuro escrever alguma coisa sobre as conseqüências gerais para a cidade da adoção da tarifa zero. O que aconteceria com o custo da terra? Qual seria o impacto sobre o uso do solo O que aconteceria o lucro das empresas?

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Os transportes públicos e a população de rua - II

O aumento de número de pessoas dormindo na rua não é a única conseqüência do encarecimento das passagens de ônibus, tema da postagem anterior.

Se os mais pobres acabam não tendo outra saída, se não dormir nas ruas da cidade; do outro lado, aqueles que tem condições passam a usar o automóvel, pois fica até mais barato ir de carro, dependendo da distancia e possibilidade de estacionamento.

Com o aumento do número de carros nas ruas, o transito das cidades piora. Se o número de passageiros cai e o transito piora, o lucro das empresas de ônibus se reduz. As empresas de ônibus passam então a fazer pressão por novos aumentos de tarifa. Com o novo aumento da tarifa mais gente dorme na rua e mais gente sai de carro. É um circulo vicioso.

Um circulo vicioso que traz danos para a toda a cidade. Mais pessoas dormindo nas ruas; tarifas de transporte mais altas; transito mais lento; mais poluição: queda da qualidade de vida e da produtividade urbana, com prejuízo para todas as famílias e empresas.

Para as metrópoles brasileiras é decisivo romper com esse ciclo vicioso e o caminho parece ser a gestão pública do transporte publico.

Obs: Sobre essa questão dos transportes públicos veja também, neste blog, as postagens de 18 de abril de 2009 e 28 de abril de 2009.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Os transportes públicos e a população que dorme na rua - I.

O jornal O GLOBO (17/8/2010) informa que “pelo menos 37 milhões de brasileiros ficam sem o dinheiro da passagem para voltar para casa”, porque os preços das passagens dos transportes públicos tem um peso excessivo no orçamento familiar. A estratégia utilizada então por esses trabalhadores pobres é dormir na rua.

É comum ver alguém reclamando das pessoas dormindo da rua. Os setores ligados ao turismo, por exemplo, costumam afirmar que pessoas dormindo na rua produzem uma cena que choca o turista. Com esses estudos fica claro: quem reclama do número de pessoas dormindo na rua deveria reclamar do preço das passagens do transporte público, pois o aumento de numero de pessoas dormindo nas ruas é conseqüência imediata do aumento do valor das passagens dos transportes públicos.

O quadro que choca o turista: pessoas dormindo na rua, sem condições sanitárias, com o comprometimento da dignidade humana, de seu direito d ir e vir, é efetivamente um escândalo social e político.

Como resolver o problema?

Subsidiar as passagens é injusto socialmente e moralmente indecente porque significa transferir renda do conjunto da coletividade para o lucro do setor de transporte, que lucra com o serviço que presta.

A justificativa usada para privatizar serviços públicos foi a de que o mercado seria capaz de alocar os recursos melhor que o Estado. No entanto, fica evidente que a lucratividade das empresas de transporte público é incompatível com condições básicas de cidadania.

Os transportes públicos representam hoje um gargalo para o desenvolvimento das metrópoles e grandes cidades, que produzem mais de 80% do PIB nacional. A qualidade do transporte público não é boa, a organização do sistema, para atender ao lucro privado, tornou o sistema irracional e o preço da passagem impede a efetivação de condições básicas de cidadania para uma parcela expressiva das famílias brasileiras.

É preciso agora coragem política para examinar a idéia de transferir para o poder publico a gestão dos transportes públicos nas metrópoles e grandes cidades.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Como a crise nos EEUU está atingindo as cidades

Retirado do Viomundo: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/crise-nos-eua-como-e-de-perto-o-colapso-do-imperio.html

Como a crise nos EEUU está atingindo as cidades?

By Glenn Greenwald, no Salon

“Aqui vão alguns exemplos:”

“Muitas empresas e negócios congelaram as contratações de funcionários este ano, mas o estado do Havaí foi além — congelou os estudantes. As escolas públicas de todo o estado ficaram fechadas em 17 sextas-feiras do mais recente ano escolar, dando aos estudantes o ano acadêmico mais curto do país.”

“Muitos sistemas de transporte público reduziram serviços para cortar gastos, mas o condado de Clayton, na Geórgia, um subúrbio de Atlanta, adotou o corte total e acabou com todo o sistema público de ônibus. Os últimos ônibus circularam no dia 31 de março, deixando sem transporte 8.400 usuários por dia.”

“Mesmo a segurança pública não ficou imune ao facão no orçamento. Em Colorado Springs, a crise vai ser lembrada, literalmente, como a idade da escuridão: a cidade apagou um terço dos 24.512 postes de rua para economizar dinheiro em eletricidade, além de reduzir a força policial e vender os helicópteros da polícia.”

A apesar de o artigo apresentar informações pontuais, sugerindo que são exemplos, mas sem apresentar informações do panorama geral, pode-se considerar que os serviços públicos com previdência, educação, saúde, cultura e urbanização representam gastos do Estado que mais afetam a vida dos trabalhadores nas cidades.

Se é sobre esses gastos que incide primeiro e principalmente os cortes necessários a um ajuste fiscal, já isso é uma opção política.
De toda forma, quem ver o filme do Michael Moore, Capitalism: a love story, não terá dúvidas: a crise americana está atingindo fortemente a vida nas cidades.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A cidade dos sonhos: dos sonhos do capital imobiliário.

Recebi de um amigo um email com a seguinte notícia:

“Criado pela siderúrgica sul-coreana Posco e pela imobiliária nova-iorquina Gale International, o município de Songdo deverá ter um custo de US$ 40 bilhões. A meta é criar um lugar que reúna “tudo que alguém possa querer, precisar ou sonhar numa única cidade”. Essa definição aparentemente inclui “táxis aquáticos elétricos”, as torres gêmeas mais altas do planeta, um campo de golfe projetado por Jack Nicklaus, e um parque de 40 hectares no centro da cidade.”

“Qualquer um que possa gastar US$ 26 mil na educação de cada um de seus filhos certamente ficará encantado com aquela que promete ser a escola mais bem equipada do mundo, com auditório com capacidade para 650 pessoas, e seu próprio estúdio de TV. Como Songdo pretende se tornar um centro do comércio internacional, sua escola também deverá ser internacional, para abrigar os filhos dos executivos que, de acordo com a expectativa dos criadores, chegarão aos montes a partir do lançamento da cidade, em 2015.”


Trata-se então do que em sido chamado no âmbito dos debates acadêmicos sobre planejamento urbano de “grande projeto urbano”: uma operação do grande capital imobiliário que tem como meta obter lucro a partir de uma grande reestruturação do uso do solo, com geração de economias de aglomeração, pela coordenação das ações dos agentes econômicos, com forte presença de mecanismos de propaganda e marketing. Algo que já existia embrionariamente na produção dos shopping-centers, mas que, na forma como apresenta na email, aqui aparece elevado a escala da cidade, com a transformação do não urbano em urbano de uma só vez.

A propaganda promete tudo que alguém possa querer, precisar ou sonhar numa única cidade. Bem considero que duas coisas são fundamentais numa cidade. A primeira é cidadania.

A existência da cidadania, entendida como “direito à direitos”, remete a sensação de liberdade e segurança ampliada, iniciada na idade média, quando a cidade se afirmou autônoma frente a dominação feudal. A dinâmica do capital nas cidades torna posteriormente a luta pela cidadania uma luta permanente nas cidades, onde os trabalhadores precisam reconquistar sua cidadania para garantir as condições de sua integridade física e moral.

A cultura das cidades, produto de um longo processo histórico, que impregnou paisagens urbanas e práticas culturais, é que faz de uma cidade um lugar especial. Mais: é que constrói a identidade entre cada individuo e sua cidade. É o que cria e sensação de pertencimento, que faz com que cada um se sinta em casa na sua cidade.

Esses processos estão evidentemente fora das possibilidades do capital imobiliário criar.